quinta-feira, 16 de julho de 2009

ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA

Edinaldo Lima *
Roberval Pereira *
Valdir Araújo *


RESUMO

Este artigo tem como objetivo analisar a qualidade do livro didático de ensino fundamental de Geografia. Para isso, selecionamos o livro de sexta-série do ensino fundamental. Nele analisamos imagens, mapas, gráficos, tecendo alguns elogios e críticas quando entendemos como necessárias.

PALAVRAS-CHAVE:
Geografia, formação, ensino fundamental e ensino médio.


INTRODUÇÃO

O livro didático constitui-se parte importante para a formação do pensamento e apreensão de conceitos pelas pessoas, logo, deve ser o máximo possível isento de erros, apresentar conceitos de forma clara, destituído de preconceitos sejam eles através de fotos, imagens, tabelas, mapas, etc. Partindo desses pressupostos, analisamos as ilustrações, fotos, mapas e conceito do livro: ”Lições de Geografia: as regiões do Brasil,” destinado à sexta-série do ensino fundamental. O foco de investigação foi direcionado para os temas mencionados acima, em virtude de serem imprescindíveis na formação do conhecimento.
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* Graduandos do 5° semestre em Licenciatura Plena em Geografia na Universidade do Estado da Bahia – Campus IV – Jacobina.

REFERÊNCIAS PROFISSIONAIS DOS AUTORES

O livro didático de Geografia da sexta-série do ensino fundamental foi elaborado por dois autores: Hélio Carlos Garcia, formado em Economia pela Pontifica Universidade Católica de São Paulo, sendo que o mesmo ministra aulas de Geografia no Sistema Anglo de Ensino (São Paulo), e Tito Marcio Garavello, graduando em Geografia no Centro Universitário FIEO, no Estado de São Paulo e também ministra aulas de Geografia no Sistema Anglo de Ensino. O fato de nenhum dos dois possuir formação em Geografia pode ter contribuído para que a obra analisada apresente erros e até mesmo preconceitos. No entanto, o que ameniza essa falta de formação em geografia é que eles têm como referenciais teóricos conceituados autores da Geografia como: Paul Vidal de La Blache, Milton Santos, Yves Lacoste, Ana Fani, Pierre George, Claude Raffestin, Iná de Castro, Manoel Carreira de Andrade, Josué de Castro, etc.


ESTRUTURA DOS CONTEÚDOS

O livro aborda aspectos políticos, econômicos e sociais das regiões do Brasil. O conteúdo está subdivido em 14 capítulos que também são divididos em subtemas facilitando o manuseio do material e o estudo do conteúdo. Porém, apresenta em seu corpo alguns erros de conceitos, figuras e imagens que serão discutidos a partir de então.


LINGUAGEM GRÁFICA E QUALIDADE DAS IMAGENS, ILUSTRAÇÕES, MAPAS, E GRÁFICOS

Na p.10, (figura 1), o mapa mundi, intitulado “Os dez países mais populosos (2007)”, não contém legendas explicativas, ficando subtendido seu conteúdo uma vez que os nomes dos países encontram-se grafados com fonte semelhante aos continentes. Um erro primário, pois é de fundamental importância que os mapas contenham legendas que esclareçam seus elementos constituintes, para que sejam compreendidos.

Figura 1
No capítulo 5, (Urbanização), encontramos no primeiro parágrafo o conceito de cidade:

Cidade é um aglomerado humano concentrado, que se apresenta com uma determinada organização espacial, com vias de circulação, serviços de transportes, limpezas pública, rede de coletas de esgotos, abastecimentos de água e energia elétrica, etc. (Garcia e Garavello, 2007, p. 59).

Este é um conceito abrangente que induz o aluno a entender a cidade como sendo qualquer área que seja habitada e que os serviços citados estejam presentes. Evidentemente, uma cidade contempla esses e outros serviços, mas muitos distritos se estruturam dessa maneira. Porém, é a cidade uma unidade da federação com administração pública (Prefeitura) que é criada segundo leis vigentes no país. Portanto, não é ela apenas “... um aglomerado humano concentrado...”. Observemos o texto abaixo:

A Emenda Constitucional 15, de 13, de setembro de 1996, (EC 15/96), estabelece normas mais rígidas para a criação de municípios como o estudo de viabilidade e plebiscito abrangendo as populações envolvidas [...] O estudo deverá comprovar que a área da nova localidade tem igual ou superior a 5 mil habitantes, nas regiões Norte e Centro-Oeste; 7 mil habitantes no Nordeste; e 10 mil habitantes no Sul e Sudeste. Outra condição é que haja um número mínimo de imóveis no aglomerado urbano que sediará o novo município e que a área urbana não fica em reserva indígena, de preservação ambiental ou da União. (JORNAL do Senado, p. 4, out. 2008)


Na p.79, encontra-se a seguinte definição para matéria-prima: “Substâncias naturais existentes em nosso planeta que não foram produzidos pelas pessoas, como as madeiras, os minérios, as jazidas de petróleo, entre outros. Alguns produtos elaborados pelos seres-humanos e enviados diretamente para as indústrias também podem ser considerados matérias-primas, como, (cereais, frutas, verduras, legumes) e os produtos pecuários (diferentes tipos de carnes e leite, por exemplo)” (Garcia e Garavello, 2007, p. 79).
A maneira como os autores conceitua matéria-prima ficou subtendida, isto é, apresenta duplo significado, pois de início matéria-prima seria segundo eles substâncias naturais não produzidas pelas pessoas, mas posteriormente afirmam que elas podem ser produtos elaborados pelos seres-humanos. Na verdade eles estão querendo afirmar que matérias-primas são retiradas da natureza, mas que não sofreram alterações por processos industriais, mantendo suas características originais. Contudo, a linguagem utilizada não é adequada ao público alvo.
O parágrafo inicial da p.92. Diz:
“Determinados períodos da formação da crosta terrestre são de grande importância econômica para as pessoas hoje, por causa do material que se formou como os minérios, os tipos de rocha, etc.”. (Garcia e Garavello, 2007, p. 92).
A redação utilizada para evidenciar a importância econômica que os minérios têm para o ser humano, causa a impressão que são os períodos que tem valor econômico, quando se sabe que nesses períodos de formação da crosta terrestre foram surgindo os materiais já mencionados e sua utilização econômica teve início milhões de anos depois.
Na p. 96, (figura 2), há uma imagem que mostra como o petróleo e o gás estão distribuídos no subsolo, trata-se de um esquema meramente ilustrativo, porém esta informação é omitida e substituída pela frase “Org pelos autores”. Assim, os alunos poderiam pensar que esses materiais estão exatamente dessa maneira no subsolo.

Figura 2
No capítulo “Região Nordeste e complexo Regional Nordestino,” é evidente o uso de argumentos que servem para reforçar e disseminar uma visão histórica sobre essa região do Brasil como “Região problema”, exceção da (Zona da mata), o restante, sobretudo o sertão é apresentado como uma paisagem inóspita, com solos endurecidos e quebrados e arbustos ressecados.”.
Os movimentos migratórios são usados para perpetuar a ideia de que o Nordeste é uma área repulsora de população, pois, além, das adversidades climáticas possui pouca participação na indústria nacional.
Embora sejam estes fatores determinantes para a saída em massa de pessoas para outras regiões do Brasil, principalmente o sudeste, porém, faz-se necessário esclarecer que a negligência política tem parcela incontestável nesse processo.
Vale ressaltar que é um problema grave conduzir a formação de cidadãos preconceituosos, pois isto funciona como arcabouço para a perpetuação de discrepâncias regionais. Vejamos a citação de Freire:


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os livros didáticos vêm impregnados de ideologias e interesses dos autores, portanto é fundamental conhecer as origens dos mesmos e as suas formações acadêmicas para, a partir daí, entendermos porque eles abordam de uma maneira ou de outra os temas trabalhados. Tentamos o máximo possível fazer uma análise objetiva, discreta e imparcial dos conteúdos, pois sabemos que analisar um livro, sobretudo o didático não é tarefa fácil, nem mesmo para professores que militam na área há muitos anos. No entanto, as nossas análises nos permitiram visualizar erros conceituais, erros relacionados às imagens e fotos. Em parte essas falhas relacionam-se a má formação de alguns profissionais que elaboram os livros didáticos. Esperamos, por fim, que tenhamos alcançado os nossos objetivos, que foi fazermos uma análise discreta e imparcial dos livros por nós analisados. Tendo em vista o ensino-aprendizagem.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GARCIA, Hélio Carlos; GARAVELLO, Tito Márcio. Lições de Geografia: As regiões do Brasil. 11 ed. São Paulo: Scipione, 2007.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 37 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

APROVADAS normas para criação de municípios, Jornal do Senado, Brasília, p. 4, 20 a 26 de out. 2008.

TEXTO: Conhecimento do espaço escolar

O texto faz uma analogia entre a teoria de Taylor em que ele relaciona algumas regras para que uma indústria desenvolva, atingindo o seu potencial de produção máximo e como uma escola pode fazer para ter um maior aproveitamento no que concerne ao ensino-aprendizagem, partindo de uma organização até alcançar um maior desempenho entre professores, alunos e o pessoal de apoio, baseado na racionalidade de Taylor que afirma que é preciso selecionar o trabalhador de acordo com as suas habilidades, classificá-lo e treiná-lo e aperfeiçoá-lo para a racionalidade científica, no sentido de conseguir máxima produção com o mínimo de tempo e de esforço.
Esse trabalho teve início com observações e entrevistas com funcionários de cada setor da escola para que fossem conhecidas as rotinas dos mesmos. De posse dessas informações, foram propostas sugestões para melhoria na circulação, organização do material e das relações interpessoais, salientando que a teoria de Taylor não poderia ser seguida à risca, uma vez que o espaço escolar não é mecânico e sim um espaço dinâmico onde existem relações pessoais que colaboram, sobretudo, para melhoria da aprendizagem. O objetivo era auxiliar professores e estagiários, no sentido de que houvesse uma organização nas aulas de Geografia, principalmente no que concerne a materiais didáticos e demais recursos disponíveis na escola. Iniciou-se pela organização dos mapas, uma vez que os mesmos encontravam-se alojados de forma desorganizada, dificultando quando os professores e estagiários necessitavam deles para ministrarem suas aulas. Este trabalho foi essencial para a instituição de ensino, uma vez que dispunha de poucos recursos financeiros alem da desorganização. Os recursos financeiros não aumentaram, mas a organização deu uma impressão de que os materiais didáticos aumentaram, uma vez que podiam ser encontrados com mais facilidade e sempre em um mesmo local.

Segundo Oyafuso e Maia (1998; 13), é possível afirmar que a autonomia de uma escola se constrói a partir de três eixos fundamentais: a capacidade de identificar problemas, a capacidade de aprender alternativas para solucioná-los e capacidade de administrar recursos financeiros próprios correspondentes a essas alternativas.

Neste caso a organização dos materiais didáticos foi apenas dos mapas, porém, não só mapas têm que ser organizados e sim todos os recursos didáticos disponíveis nas escolas. Recomenda-se ainda que sejam organizadas as rotinas dos alunos para que haja um maior aproveitamento nas suas atividades e que seja racionalizado o espaço escolar, no sentido de haja uma qualidade melhor neste ambiente. Desta forma, pode-se contribuir com mais facilidade para a formação de cidadãos produtivos, organizados e conscientes das suas funções em uma sociedade organizada.